A vida de capoeira não é fácil, quem vivencia em seu dia a dia sabe disso, são obstáculos que surgem inesperadamente, barreiras invisíveis que às vezes nos deixam desanimados, esforços que em muitas das vezes não são reconhecidos por quem está a nossa volta.

Neste domingo, dia 05 de junho de 2016, estivemos em Niterói – Rio de Janeiro, para prestigiar o evento de um amigo. Um amigo que há uns meses atrás se mostrou desanimado pelas redes sociais e pensou em largar a capoeira, mas felizmente com o apoio dos amigos reconsiderou e continuou seu trabalho, e assim, viemos prestigiar o amigo Professor Coca que realizou seu 4º Batizado e Troca de Cordéis na Capoeira Novo Mundo.

Chegando lá o Espaço Cores, nome do local do evento, nos pareceu justamente um arco-íris que vem logo após a tempestade, tudo muito apropriado para uma manhã que amanheceu chuvosa, e o esperançoso pote de ouro seria a alegria de todos os capoeiristas no final do evento.

Os preparativos finais ainda estavam sendo finalizados pelo professor e alunos mais velhos, as crianças se demonstravam agitadas, por ansiedade ou felicidade, mas tudo justificável em um dia assim. Os convidados aos poucos iam chegando, quem é capoeirista pensava logo em se trocar, quem foi para assistir procurava uma cadeira disponível para se sentar.

Quando o professor pegou o berimbau gunga e tocou são bento grande de angola seguido pelo restante do ritmo e acompanhado das palmas dos alunos para trazer aquele axé para a roda anunciando que o evento estava aberto e alegria não iria faltar.

Agora com a atenção de todos, a roda aberta, e a chegada de seu Mestre Mineirinho, chamou as crianças para jogar com um adulto e assim irem aquecendo seus corpos para tudo que ainda estava por vim neste dia.

Depois da roda com crianças, foi a vez de uma roda só para as mulheres, depois uma roda para um homem e uma mulher e por fim a roda mista para quem quisesse entrar.

Após esse momento de vadiação, o Prof. Coca fez a apresentação dos mestres presentes e deu-se início ao batizado. Mas antes dos mestres entrarem para jogar, o Prof. Coca pediu que estes deixassem sua aluna que desempenha um belo trabalho com essas crianças fazer o primeiro jogo com elas e depois que o mestre jogasse para formalizar o batizado, uma atitude muito bonita de quem sabe o significado e a importância de valorizar o esforço de quem está ao seu lado.

Depois foi decorrendo a troca de graduação dos alunos mais velhos, de acordo com o nível em que estes estavam, podendo assim, entrarem para jogar também, instrutores, professores e contramestres.

Já, próximo do almoço, o Prof. Coca liberou as crianças para irem fazer o seu lanche, e a roda foi liberada para todos jogarem a vontade. Após um bom tempo de vadiação e boa capoeira, o Prof. Coca encerrou a roda e liberou a todos para lanchar, mas antes, Mestre Mineirinho fez um discurso de agradecimento a todos os presentes e deixou algumas pessoas falarem.

Por fim, o Prof. Coca permitiu que quem quisesse jogar mais um pouco que jogasse, aqueles que queriam lanchar que lanchassem e a capoeira ficou feliz com isso, demonstrando que no fim do arco-íris realmente há um pote de ouro para quem planta o bem, este ouro não tem valor financeiro, mas sim, um valor muito maior que é o emocional.

Essa vida de capoeira é para quem gosta da beleza da arte, pois ela não lhe dá dinheiro, pelo contrário, a cada evento que se vai, é um gasto com deslocamento, e olha que são muitos eventos por ano. São poucos aqueles que vivem somente da capoeira e conseguem se sustentar com isso. A maioria dos mestres, contramestres, mestrandos, professores e instrutores que dão aula, possuem uma atividade de trabalho oficial para lhe dar o sustento e trabalha com a capoeira por amor, por dedicação aos alunos e pelo prazer de ensinar a cultura popular brasileira, que, esta sim é rica, rica de lutas e histórias que sobrevivem graças a estas pessoas que nadam às vezes contra a maré para não desanimar.

Parabéns Professor Coca (Bruno Lima​) por sua dedicação e força de vontade e por acreditar na capoeira.

Parabéns ao Mestre Mineirinho (Marcio Marques​) por motivar este professor e motivar a pratica dessa luta marcial genuinamente brasileira.

Parabéns a todos os capoeiristas presentes por contribuir para que o berimbau nunca se cale.

Fotos: Leila Muniz e Jefferson Estanislau
Texto: Jefferson Estanislau

#VemJogarCapoeira

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