Artur Emídio de Oliveira nasceu na cidade de Itabuna, no sul da Bahia, em 31 de março de 1930. Morava com os pais, fazendeiros, numa casa modesta da então Rua Direita, no bairro do Pontalzinho.

Começou a praticar a Capoeira quando tinha apenas sete anos, com Mestre Paizinho, Teodoro Ramos, discípulo do Mestre Neném, de origem africana.

Artur Emídio faz um relato sobre essa época: "a prática da Capoeira era proibida. Treinava-se no alto dos morros, nas vielas, à noite e sempre escondido. Muitas foram às vezes que o meu Mestre foi preso. Mas no dia seguinte a fiança era paga, e ele saía. E, de noite, voltava a ensinar Capoeira, praticada por amor! É..., naquele tempo era assim: bastava gingar. Gingou ia preso! Mas já a praticavam comerciantes, estudantes, universitários, gente pobre e gente rica!"

Teodoro Ramos faleceu em 1946, quando Artur Emídio estava com 15 anos de idade.

Mestre Paizinho foi uma figura misteriosa sobre a qual se criaram diversas histórias, inclusive sobre sua morte. Segundo Artur Emídio, ele morreu de "morte morrida", por conseqüência de uma meningite, mas até hoje há um folclore por trás de sua morte. Há quem conte que em uma noite enluarada de Itabuna e Ilhéus, ele tentou voar do alto de um coqueiro utilizando folhas de palmeiras como asas, “como fez Ícaro na antiga Grécia”, mas a experiência terminou na sua queda e morte.

Adolescente e agora sem seu mestre, Artur Emídio continuou a praticar capoeira, sua grande destreza e agilidade o levam a se aventurar no circo, onde passou a cativar platéias que o impulsionou a participar de programas de "luta livre" em parques de diversões de Itabuna, que se constituíam em demonstrações de habilidade nas artes marciais, que incluía diversas modalidades de luta, principalmente no seu caso, na arte da Capoeira.

Aos poucos vai ganhando popularidade como lutador de luta livre, e isso o leva, aos 23 anos, em 1953, a sair de Itabuna para São Paulo, para uma luta contra Edgar Duro. E ao fim do embate, sagra-se vencedor.

A bem sucedida vitória em São Paulo, ganha repercussão, e em 1954 vai ao Rio de Janeiro para lutar contra Hélio Gracie, lutador de Jiu-Jitsu. Desta vez, o resultado da luta foi o empate!

A cidade maravilhosa acaba cativando Artur Emídio, que faz o que muitos baianos fizeram naquela época, conforme descreve um trecho do dossiê da capoeira elaborado pelo Iphan para o registro da capoeira como patrimônio cultural do Brasil, que relata um pouco sobre Artur Emídio.

“(...) com a migração de baianos para o sudeste brasileiro, em busca de melhores oportunidades de vida, uma leva de mestres capoeiristas chegou ao Rio de Janeiro nos anos 1950. O mais importante deles foi Arthur Emídio, que vinha de Itabuna, região do cacau na Bahia”.

Em 1955, Artur Emídio se mudou para o Rio de Janeiro com sua família, naquela época segundo Mestre Artur a única capoeira que existia no Rio de Janeiro era do Mestre Sinhozinho, uma capoeira que não existia ritmo, não tinha berimbau, pandeiro, atabaque, somente tinha luta. Mestre Artur Emídio conta: "Na academia de Sinhozinho o que rolava era pancadaria e esse não era meu tipo de ensinar a capoeira".

“(...) Ainda que tivesse ênfase na marcialidade, Arthur Emídio, ao contrário de Sinhozinho, mantinha a orquestração musical e fazia apresentações folclóricas. Instalou sua academia na zona norte do Rio de Janeiro e se tornou um dos capoeiristas mais famosos da cidade.”

Nesta época Sinhozinho e Artur Emídio foram convidados para fazer uma apresentação de capoeira no exército, os alunos de Sinhozinho entraram de sunga metendo soco um na cara do outro, uma coisa horrível longe das raízes da capoeira, já os alunos de Artur Emídio jogaram a sua capoeira, foi um sucesso.

Mestre Arthur Emídio trouxe uma capoeira que não tinha ligação com a capoeira angola de Pastinha nem com a regional de Bimba. Possuía uma movimentação veloz e eficaz marcialmente, tanto que chegou a competir nos ringues com lutadores de outras artes marciais.

Nos ringues, enfrentou lutadores de primeira linha, como Rudolf Hermany, Robson Gracie, Carlos Coutinho (da Bahia), Carbono (do Rio) e Edgar Duro (de São Paulo). Enfrentou, com sucesso, alguns alunos do Mestre Bimba que cruzaram seu caminho.

“(...) Arthur Emídio foi, provavelmente, o primeiro capoeirista a viajar para o exterior, entre os anos 1950 e meados de 1960. Ele se apresentou na Argentina, México, Estados Unidos e Europa. Além disso, fez demonstrações para os presidentes brasileiros Vargas e Kubitschek e para os governantes norte-americanos Eisenhower e Kennedy.”

Seu primeiro aluno foi Djalma Bandeira, companheiro de viagens ao exterior, com quem o Mestre se aprimorava na Capoeira. Foi um dos pioneiros na difusão internacional da Capoeira, realizada através de viagens a cerca de 20 países. Exibiu-se, também, para o ex-presidente Getúlio Vargas, em Salvador: "... quando os berimbaus pararam, o ex-presidente levantou-se e veio cumprimentar-me: 'parabéns rapaz. Esse é um esporte verdadeiramente brasileiro! E você sabe praticá-lo!', foi o que me disse então o ex-presidente."

Artur Emídio teve muitos alunos entre eles mestres importantes como: o saudoso Leopoldina, Celso (Engenho da Rainha), Mendonça (criador dos cordéis), Paulo Gomes (fundador da ABRACAP), Vilela, Paulo Gomes, Djalma Bandeira e Vilmar. O que dá uma dimensão de sua influência na capoeira praticada na zona norte carioca nas décadas de 50 e 60.

Uma artrose no joelho esquerdo o deixou impossibilito de continuar jogando e ensinando Capoeira, porém, continuou em permanente contato com o Mundo da Capoeira, proferindo palestras sobre seus fundamentos e sua história, dizia: "Mestre Bimba e Mestre Pastinha já morreram, mas eu não, quando eu puder voltarei a dar aula, tenho muita coisa para ensinar que nunca vi ninguém fazer."

Na tarde do dia 03 de maio de 2011, na cidade do Rio de Janeiro, Mestre Artur Emídio faleceu aos 81 anos de idade, sendo considerado por muitos o precursor da Capoeira do Rio de Janeiro.


Informações do Iphan:

Artur Emídio de Oliveira Mestre Artur Emídio, nasceu em 31 de março de 1930. Com 7 anos começou na Capoeira e em 1945 iniciava como instrutor. É reconhecido mestre em 1960. Discípulo de Teodoro Ramos, Mestre Paizinho de Itabuna-BA criou o grupo de capoeira Artur Emídio no Rio de Janeiro. Deu aulas em instituições das Forças Armadas e realizou centenas de palestras e demonstrações em escolas e praças. Para ele Capoeira era “tanto esporte quanto luta e ação social: é a luta mais bonita do mundo e ainda desenvolve o psicológico do indivíduo”. Acreditava que sua prática “gerou mais respeito ao próximo e o valor da ética”. Por vocação e natureza, a história de Mestre Artur Emídio fez a ligação da antiga capoeiragem carioca com as gerações mais novas. Seu papel agregador foi fundamental na valorização da "velha guarda" da capoeiragem carioca em um cenário em que a capoeira se esportivizava e cativava os mais jovens. Sobretudo na década de oitenta.


Fontes de referência:

* http://portal.iphan.gov.br
* http://bibliotecadacapoeira.blogspot.com.br
* http://insanos-insanoss.blogspot.com.br
* http://www.senzala.org.br