O dia 28 de agosto de 1995 era para ser apenas mais um dia de glória para o jiu-jítsu. Àquela altura, Royce Gracie já havia conquistado três das primeiras quatro edições do UFC e consagrado a arte suave para o mundo. Com a hegemonia consolidada, foi criado o Desafio Internacional de Vale Tudo, que foi disputado no Maracanãzinho e tinha como principal favorito o bicampeão mundial Amaury Bitetti. Porém, o protagonismo acabou ficando para um guarda municipal de 33 anos e que tinha a capoeira como seu carro-chefe. Sidney Gonçalves Freitas, ou Mestre Hulk, como é conhecido, nocauteou o faixa-preta na decisão do torneio em apenas 23 segundos e entrou para a história do templo das lutas.

O objetivo inicial do evento era o de casar de forma imediata o duelo entre Amaury Bitetti, bicampeão mundial de jiu-jítsu, e Rickson Gracie. O idealizador era Carlos Alberto Scorzelli, jornalista e empresário, que trabalhava no Governo do Rio de Janeiro. Após uma ligação para João Alberto Barreto, faixa-preta de Hélio Gracie, para pedir ajuda, ouviu a sugestão de criar uma seletiva inicial com um torneio com oito lutadores, seguido de um outro torneio com o campeão desta seletiva e mais outros sete nomes internacionais de outras artes marciais. Desta forma, Bitetti, Hulk, Francisco Nonato, Rostan Lacerda, The Pedro, James Adler, Rei Zulu e Fera do Acari foram convidados para o evento. Só não imaginavam que um capoeirista poderia sair vencedor.

- Qual era a visão do pessoal do jiu-jítsu? Que o Amaury não teria problemas em ser o campeão do torneio. Ninguém esperava que o Amaury Bitetti pudesse perder para o Hulk. Existia uma soberba de fato, mas realmente o Amaury, se lutasse a segunda vez com o Hulk, venceria com tranquilidade. Aquilo foi acidente de percurso. Se eles lutassem de novo, ele ganharia, não tenho a menor dúvida, porque ele tinha conhecimento técnico para isso. São coisas que podem ocorrer. Foi um acidente. Com a derrota do Amaury, a programação com o Rickson perdeu a força. A força mesmo era o campeão do torneio, que seria o Amaury Bitetti no caso, contra o Rickson, mas acabou perdendo - recordou João Alberto, em entrevista ao Combate.com.

O formato do torneio era de mata-mata, com o campeão vencendo três lutas na noite, e as chaves sendo definidas através de sorteio. Na primeira rodada, Amaury Bitetti, Mestre Hulk e James Adler não tiveram trabalho para conseguir suas vitórias sobre Francisco Nonato, Rostan Lacerda e Fera do Acari, respectivamente. Apenas The Pedro suou para superar o Rei Zulu, após 11m54s de luta no primeiro round (eram rounds de 20 minutos). Nas semifinais, Bitetti enfrentou Adler, e Hulk encarou The Pedro.

Na primeira semi, Amaury Bitetti acreditava que teria seu rival mais difícil da noite em James Adler. Porém, liquidou a fatura em apenas 1m51s com golpes no "ground and pound".

- O James Adler para mim era o melhor. Se estivesse na outra chave, com certeza faria a final comigo. Ele começou bem, encaixei ali dois, três golpes, ele veio pra cima e eu clinchei. Passei para as costas no alto, já indo pro chão. Comecei a desferir golpes, montei e executei com vários socos e cotoveladas por dentro, inclusive na coluna, porque antigamente não tinha essa regra. Depois proibiram no Pride. Eu fui o primeiro a acertar cotoveladas na coluna e proibiram. Era o cara mais duro da chave e passei bem. Fui pra final já relaxado - contou.


A outra semifinal era uma revanche que já se desenhava disputada. Um mês antes do torneio, Mestre Hulk e The Pedro lutaram no Rio de Janeiro em um combate que durou cerca de 1h20m somando os rounds, com triunfo de Hulk. Outra guerra aconteceu, desta vez no Maracanãzinho. O vitorioso foi o próprio Mestre Hulk, após 14m43s de luta. Se credenciar para a decisão deixou o carioca com a sensação de missão cumprida perante seus amigos da Guarda Municipal, que fizeram a segurança após pedido do próprio lutador, que ajudou a organização ao conseguir 176 guardas no evento.

- Quando ganhei a primeira luta já estava satisfeito porque tinha 176 amigos da Guarda Municipal fazendo a segurança do evento. Foi pedido a mim, quando me reuni com a organização, se poderia convidar. E eu tinha contato com o comandante direto, e ele disse que colocaria quantos sobrassem no dia. Todos quiseram ir. Eu tinha o compromisso de não perder na primeira. Imagina a Guarda Municipal toda lá e eu perco na primeira? Quando ganhei, já fiquei na situação de conforto. Depois que ganhei o The Pedro, foi como ganhar o campeonato. Eu seria segundo de um circuito nacional e achava de bom tamanho. Mas quando me coloquei na situação de ser o segundo, pensei que ser o primeiro era muito melhor. Achava que talvez não tivesse resistência para uma luta como a do The Pedro - disse.

O cansaço de fato era um fator preocupante. Entre a semifinal e a final, Hulk teve de 20 a 30 minutos de descanso, cerca da metade do tempo de Bitetti, que lutou antes dele e venceu de forma rápida. A receita para sair vitorioso era clara: definir o combate o quanto antes. Mas nem o próprio capoeirista esperava que fosse sair campeão em apenas 23 segundos de luta contra um bicampeão mundial de jiu-jítsu.

Depois de soltar um martelo cruzado no vazio, ele encaixou um overhand de direita que derrubou Amaury. Com o adversário no chão, Mestre Hulk aplicou mais 12 socos até a interrupção do árbitro João Alberto Barreto, que determinou a vitória do capoeirista. Para Bitetti, o salto alto acabou pesando. Antes do combate já havia festa em seu vestiário, incluindo a presença de astros como Romário e Edmundo, que atuavam no Flamengo em 1995 e compareceram ao evento. Tudo isso tirou sua concentração e, para o lutador, foi determinante para o resultado. A única reclamação do faixa-preta com seu oponente é a do número de socos aplicados antes do combate ser encerrado.


- O excesso de confiança me atrapalhou. Entrei muito confiante, achando que ia trocar ali, mas quando o vi, eu estava muito tranquilo. Ele começou a dar uns pulos no meio do ringue, eu dei mole, comecei a rir. Aí entrou um overhand, já caí virando de costas pro tablado. Ali já tinha terminado a luta. Ele começou a bater na minha cabeça, continuou batendo, o juiz ficou meio sem saber o que fazer, e eu tomei uns 14 socos na cabeça. O juiz demorou. Na primeira pancada tinha que ter parado. Se eu estivesse de frente, ficava desfigurado. Ele bateu meio com medo de que eu levantasse. No lugar dele eu teria virado as costas. Achei que o cara não teve um ato legal. Ele foi tipo: "Vou tentar aqui, não vou deixar ele subir pra acabar de uma vez". Na época fiquei bolado, queria lutar de qualquer maneira com ele, marcamos revanche no Canecão, mas ele teve um acidente e não pôde lutar - afirmou Bitetti.

Mestre Hulk discordou de Amaury Bitetti sobre o suposto excesso de golpes que teria aplicado. Segundo o lutador, ele não poderia dar a oportunidade do rival se recuperar, já que era um torneio voltado para ele ganhar.

- Eu sabia que estava em um sistema voltado para eles ganharem. Ele pode ver, quando o juiz entrou, eu parei de bater. Porque se eu paro de bater antes, não ganharia a luta. O João Alberto Barreto ficou tão perplexo com o fato que ficou parado. E se eu paro de bater, ele levanta e me finaliza? Eu estava fazendo a minha parte. Vi várias vezes o juiz mandar parar, e os caras do jiu-jítsu quebrarem o braço ou fazerem alguém apagar. Na hora que o João Alberto entrou, acabou pra mim. Não tenho nada contra o cara, sempre fui muito ético. Eu pensei: "Não vou deixar passar nenhuma oportunidade". Eu dei um martelo cruzado, mas não foi pra pegar, foi pra manter a distância. Precisava mantê-lo distante para ele não me agarrar e levar pro chão, porque ali ele era o cara. Eu fazia luta livre na época, mas via o pessoal da luta livre fazendo Vale Tudo e não se dando bem com eles, então eu dei um martelo cruzado, golpe característico da capoeira, e, quando desci, ele entrou. Quando ele entrou, meu cruzado entrou primeiro e ele caiu ajoelhado. Era minha oportunidade - defendeu-se, pouco antes de lembrar as provocações que ouviu dos rivais antes do confronto.

- Achei que ele foi vítima daquele clima que o jiu-jítsu tinha, do Royce ter ganho o Ultimate da forma que ganhou, do Rickson ter ganho o Japão Open da forma que ganhou. Parecia na época que o jiu-jítsu era imbatível. Ele tinha a responsabildiade e a segurança de que era o representante, bicampeão mundial da arte marcial que dominava. Isso deu aquele conforto pra ele, mas ao mesmo tempo acabou sendo lesivo. Não acredito que ele tenha me subestimado, mas ele tinha excesso de confiança. Até comentaram: "Esculacha primeiro em pé, depois leva pro chão e finaliza". O pessoal dele falou isso porque ele fazia boxe. Só que ele estava fazendo isso com um capoeirista - analisou.

A interrupção do árbitro, que era do jiu-jítsu, causou a revolta dos praticantes da arte suave que estavam presentes no Maracanãzinho. Mesmo com a forte imagem de Amaury Bitetti tentando se levantar e caindo quatro vezes, ainda tonto com os golpes recebidos, seus companheiros reclamaram. Em cima do ringue também estavam os de Mestre Hulk. Neste ponto, duas versões contrastam sobre como tudo foi resolvido. De acordo com Hulk, Hélio Gracie, que estava apenas assistindo às lutas, se dirigiu até perto do ringue e falou com João Alberto Barreto: "João, a luta acabou. O Moreno ganhou. Quer esculachar mais o jiu-jítsu?". Moreno era a forma como Hélio tratava Hulk. Já de acordo com João Alberto, a decisão de encerrar ali o duelo partiu somente dele.

- Como árbitro, não podia favorecer o lutador do jiu-jítsu. Eu seria um mau árbitro. Tinha que ser justo. O que aconteceu nesse dia? Houve a entrada no ringue do pessoal do jiu-jítsu e entrou também o pessoal do Hulk, da Guarda Municipal. Então eu parei. Botei todo mundo pra fora de lá, eles saíram, e só então levantei o braço do Hulk. Nisso o pessoal do jiu-jítsu gritou, porque eu representava o jiu-jítsu, mas meu papel ali era de árbitro. Então teve que prevalecer a verdade, a justiça. Não houve isso do Hélio, não. Quem deu a palavra final fui eu, como juiz. Fui para o microfone e falei. O Hélio estava assistindo, mas não determinou nada. Só faria se eu chamasse. Ele só ficou assistindo, não teve esse fato. Talvez fora do ringue pudesse ter dado alguma declaração, mas dentro do ringue quem decidiu fui eu. O próprio Amaury Bitetti não gostou muito na época. Foi um dos gestos mais importantes que tive como juiz. Eu me orgulho disso - contou João.


Polêmicas e boatos

Mesmo com o título e a classificação para a fase seguinte da competição, Mestre Hulk acabou se chateando com algumas coisas. De acordo com ele, promessas feitas jamais foram cumpridas, como a de que o vencedor levaria um cinturão, a festa que seria feita após o torneio e a fita que sairia nas bancas de jornal. Ainda segundo o lutador, como os eventos eram organizados pelo pessoal do jiu-jítsu, seu nome passou a ser boicotado e sua carreira não foi adiante.

- O que me chateou foi não ganhar o cinturão que havia. Diziam - são falácias, mas toda falácia tem fundo de verdade - que o cinturão estava gravado com o nome do Amaury. Por que agora no evento não levam o cinturão pra mim? Naquele tempo, saíam fitas dos eventos nas locadoras. Durante as reuniões diziam que teria. Tivemos que assinar documentação dando direito de imagem. Lutamos numa quinta, na segunda já estaria nas bancas. Nunca saiu. Tudo que temos na internet são fitas que a Guarda Municipal mandou um cara filmar. Ele não podia filmar, ele se escondia. Filmava um trecho daqui e outro dali. Teve muita sacanagem, que tenho certeza que o Amaury não tem nada com isso. Diziam que ia ter uma festa com tantos mil litros de chopp pra festejar. Era um mega evento pra época. E falaram que eu urinei na cerveja do pessoal do jiu-jítsu. Foram muitas histórias paralelas. Isso me deixou triste e teve uma época que parei de lutar porque o sistema me acompanharia sempre. Os caras me minavam. Acho que se eu perdesse pro Amaury seria mais valorizado. Quando ganhei, era um troglodita, golpe de sorte. Se eu perdesse: "O Amaury ganhou o Mestre Hulk, grande lutador". Eles faziam essas coisas que eu não achava legal. Penso o seguinte: se eu falo que perdi para aquele cara que era um mau lutador, eu estou assinando embaixo de que sou um péssimo lutador.

João Alberto Barreto rebateu as declarações de Hulk ao dizer que a única coisa prometida eram as bolsas dos lutadores e que todos receberam o combinado.

- Não houve nada disso. Não prometi nada. Eles assinaram contratos de luta simplesmente. Nunca aconteceu nenhum evento de luta na época que oferecesse festa. Existia pagamento. Não houve nada de cinturão. Eu fazia parte da organização, era o principal da organização do evento. Naquela época não existia isso. Hoje em dia é mais organizado, tem cinturão, pode ter festa, mas nada disso foi prometido. Isso aí é mais um folclore. Acho que ele andou ouvindo coisas.


Falta de dinheiro impede torneio internacional, e Hulk diz ter sido prejudicado

O programado era que Mestre Hulk, por ser o campeão do primeiro torneio, participasse de outro com sete lutadores internacionais, no mesmo formato do anterior, cujo campeão enfrentaria Rickson Gracie. Entretanto, o evento acabou sendo um fracasso. Por falta de pagamento aos lutadores, apenas a primeira rodada foi disputada, e o brasileiro foi nocauteado pelo carateca canadense Jean Riviére em apenas 19 segundos de combate. Entretanto, Hulk garante que foi prejudicado pela organização, na sua opinião, por ter vencido Amaury Bitetti na seletiva.

- O problema ali foi o fato deles terem me menosprezado e tentarem montar uma armadilha para acabar com a imagem do capoeirista que venceu. Tinham que fazer algo pra tirar meu prestígio daquele momento. Minha luta naquele dia seria com um lutador de muay thai, o japonês Naoyuki Taira (que acabou enfrentando Maurice Travis e vencendo por finalização). Ele tinha o mesmo peso que eu, eu estava tranquilo de que ganharia aquela luta com certa facilidade. Já tinha visto as lutas dele. Eu cheguei ao Maracanãzinho e estava me concentrando no vestiário, quando me chamaram para uma volta de apresentação. Eu faria a luta principal, ganhei um campeonato antes, e a luta principal em qualquer evento é a última da noite. Todo mundo foi ver minha luta. O que aconteceu? Me jogaram pra fazer a primeira luta. De que forma? Eu estava no vestiário deitado e me chamaram pra volta de apresentação. Peguei o berimbau e, quando acabou a volta, me chamaram de volta pro ringue. Olhei e tinha um cara em pé. Achei que pudesse ser como outros eventos, que chamavam os atletas, botavam todos no ringue, tiravam fotos... Mas eu estava sendo chamado pra lutar e nem sabia. O cara que estava lá deveria saber, porque foi chamado antes. Minha luta era para ser a última contra o japonês do muay thai. Entrei no ringue, tinha um cara de dois metros, de quimono (Jean Riviére). Era do caratê e eu não sabia. Esse cara não estava no evento, não apareceu nem no jornal em momento nenhum. O cara me chama, eu nem aquecido estava e entrei no ringue pra lutar. Aí faltou gerência do meu técnico, o Chagas, pra dizer que eu não ia lutar. Como ele estava de quimono, pensei que era do jiu-jítsu. Não sabia diferenciar. Não queria deixar ele levar a luta para o chão. Se eu soubesse que ele era do caratê, ia fazer o inverso: levar para o chão, porque sabia pouco de jiu-jítsu e a luta livre me ajudava bastante também. O que aconteceu foi que ele me mandou um cruzado e eu apaguei no ringue - disparou, ressaltando que acredita ter sido vítima de armação.


- Acredito que foi armado pra me prejudicar. Acho que quem pode dizer com bastante propriedade e tem até a oportunidade de falar a verdade, é o João Alberto Barreto. A capoeira nesse dia encheu. Eu ganhei um cheque sem fundo. Foi pra Justiça, mas não deu em nada. A Justiça dizia que ia tomar os bens dos responsáveis, e não tomou bem nenhum. Todo mundo recebeu cheque sem fundo. Morreu aí, não teve outras lutas e acabou o evento. Ninguém pegou o Rickson, e ele terminou invicto mais uma vez - acrescentou, com uma pitada de ironia.

Mais uma vez, João Alberto Barreto nega que seja verdade o ocorrido, garantindo que o sorteio realizado antes já havia determinado o cruzamento das lutas. O próprio João também recebeu cheque sem fundo de Scorzelli e ficou de mãos abanando.

- Por que ele iria fazer a luta principal? Não houve isso. Era um torneio internacional. Não tinha luta principal. Também não teve mudança de adversário. Foi sorteado muito antes. Tanto é que havia lutador de Manaus na primeira seletiva (Francisco Nonato). O Reyson Gracie morava em Manaus, eu quis prestigiá-lo, porque morei muitos anos com a família Gracie. Pedi pra ele selecionar o melhor lutador de Manaus pra participar da seletiva. Só que no sorteio, o lutador de Manaus, da minha terra, caiu pra lutar com o Amaury Bitetti. Aí o Reyson veio falar comigo, dizendo que tinha que mudar, porque o Nonato pegar logo o Bitetti não podia. Eu falei que não, que era sorteio, e o Reyson ficou muito chateado comigo. Eu o prestigiei, mas tentei manter tudo em ordem de forma justa, e ele deu uma entrevista fazendo críticas a mim. Hoje o Reyson se arrepende de ter feito isso, certamente. Eu pedi pra ele pegar o melhor de Manaus e veio o Nonato. Se eu tivesse mudado alguma coisa, não existiria isso que o Hulk está falando. Porque, se houvesse armação, eu ia pegar o amazonense da minha terra, que treinava com o Reyson, e ia mudar também. Nunca existiu vontade de fazer o Hulk perder. Sempre existiu o respeito ao vencedor. Mas que foi um acidente de percurso (a vitória sobre o Amaury), foi - disse.


Possível luta com Rickson Gracie

Com o fim abrupto do desafio por falta de verba, que fez os lutadores não darem sequência ao torneio, não houve adversário definido para Rickson Gracie. Mas Mestre Hulk ficou com a vontade de fazer história mais uma vez batendo outro grande nome da arte suave.

- Eu vi que tinha possibilidade de chegar lá, apesar do Rickson ser o cara que tinha a história de ser invencível. Eu nunca acreditei em um ser humano invencível e achava que poderia ser o cara que pelo menos estava ali, tinha ganho um deles, tinha a possibilidade de tentar também. E sem medo de perder ou ganhar, porque é aquele negócio: da mesma forma que entrei pra lutar com o Bitetti tranquilo do meu dever cumprido de já ter ganho duas lutas, eu lutar com o Rickson simbolizava que fui campeão de dois eventos. Estaria ali e, se perdesse, era para um cara que era o melhor do mundo. Tinha 50% de chance. Se ganhasse seria o cara mais famoso da época. E se perdesse, era para o cara que realmente confirmaria que era o cara - salientou.

Faixa-preta de Carlson Gracie, Amaury Bitetti tinha visão diferente. Segundo ele, sua intenção não era enfrentar Rickson, e sim mostrar a supremacia do jiu-jítsu perante as outras artes marciais. Ele garante que já tinha o plano de dar o W.O. para o amigo caso chegasse até lá.

- Eu tinha até feito um plano de que se chegasse à final com o Rickson, ia levantar o braço dele e falar: "Chegaram dois homens aqui do jiu-jítsu que venceram todas as batalhas". Eu não ia lutar com ele. Daria o W.O. para o Rickson, viraria as costas e sairia - afirmou.

A declaração pegou João Alberto Barreto de surpresa. Ele ainda disse não acreditar que isso fosse acontecer na época.

- Esporte é esporte. Nunca ouvi falar disso. Na época, o Amaury sabia da possibilidade desse confronto. Ele nunca me falou sobre isso. É uma surpresa pra mim. Veja bem, se na época eu recebo uma informação como essa, não existiria esse evento. Seria uma loucura fazer isso. Nunca faríamos uma coisa dessas. Na época o Amaury não falou isso. Ele queria. Só falou isso muitos anos depois. Lutaria sim - cravou.


Vida dos protagonistas atualmente

Quase 20 anos depois de se enfrentarem, Mestre Hulk e Amaury Bitetti não lutam mais. O primeiro não é mais guarda municipal, mas continua dando aulas de capoeira profissionalmente, além de ajudar um projeto social no Complexo do Alemão. Ele conta que Vitor Belfort chegou a prometer apoio - que não se concretizou - e tem procurado parceiros para ajudarem as crianças com material de treino.

- Hoje sou funcionário do SESC em São João de Meriti e Nova Iguaçu. Também dou aula em uma academia na Ilha do Governador, onde moro, e no Complexo de Alemão. O Vitor Belfort fez promessa de abraçar o projeto, mas não cumpriu. Vou conversar com o Minotauro para ver se ele ajuda de alguma forma. É mixaria para um empresário. O retorno que ele vai ter é muito maior do que vai investir. Vai investir em educação, no sonho de crianças. Já tive capoeiristas que foram para a luta livre, para o MMA, atleta meu que foi ser jogador de polo aquático, praticar atletismo e sobressaíram. Na capoeira a gente faz de tudo. A capoeira trabalha todas as qualidades físicas. Minha única mágoa é que minha primeira luta no Maracanãzinho foi com 33 anos. Se eu tivesse 25 anos, hoje, seria outra coisa. Para entrar no ringue não precisa ser bom lutador, tem que ter sangue no olho. Tem muito cara bom que não consegue botar o pé ali dentro.

Já Amaury Bitetti, que é organizador do Bitetti Combat, ainda treina jiu-jítsu, faz seminários e é presidente da Confederação Brasileira de MMA, onde realiza campeonatos de MMA amador e faz a arbitragem dos eventos filiados à entidade, como o Shooto e o Fatality Arena.

Assista aqui o vídeo do Baú do Esporte

Fonte: http://sportv.globo.com/site/combate/noticia/2014/10/maracanazinho-viu-mestre-hulk-fazer-historia-ao-vencer-o-jiu-jitsu-em-1995.html
Publicado em: 21/10/2014
Fotos: Raphael Marinho