OS PASSOS DA REGULAMENTAÇÃO

O primeiro passo foi através da disputa do Berimbau de Prata que ocorreu por ocasião da Feira da Providencia. Saindo vencedor o então Grupo da Bonfim, no ano seguinte e por mais dois, foi realizado o Troféu Berimbau de Ouro, vencido então pelo Grupo Senzala.

Com o crescente interesse pelo ressurgimento da capoeiragem no então Estado da Guanabara, foi realizado o primeiro e o segundo Simpósio de Capoeira, estes em 1968 e 1969 respectivamente, no Campo dos Afonso, por iniciativa da Federação Carioca de Pugilismo e apoio do Ministério da Aeronáutica, com o propósito de catalogar os golpes, as esquivas, as negaças e a nomenclatura pelo qual eram conhecidos os diversos movimentos da capoeiragem.

Deste Simpósio (a qual participaram representantes dos Estados: da Guanabara, Rio De Janeiro, Minas Gerais, Bahia e São Paulo) saiu uma relação com uma nomenclatura em comum tanto para as esquivas quanto para os golpes e demais movimentos da capoeiragem. Foram nomeadas pessoas de cada Estado para em um prazo determinado enviar ao Departamento de Capoeira da Confederação Brasileira de Pugilismo, um anteprojeto de regulamento. O tempo foi se esgotando até aparecer um anteprojeto enviado pelo então Estado da Guanabara, cujo mentor foi Damionor Ribeiro de Mendonça (Mestre Mendonça), que após vários Torneios Laboratórios, redigiu o que passou a ser o Regulamento Técnico da Capoeira (RTC), que foi homologado pelo CND-MEC, em 26 de dezembro de 1972, passando a vigorar a partir de 01 de janeiro de 1973. Desta forma a capoeiragem passa a ser esporte deixando de ser uma contravenção penal.

Com a regulamentação, foram criadas as Associações o que deu um grande impulso para a capoeiragem, sendo ela incluída nas universidades; os campeonatos se sucederam e através deles a capoeira ganhou o Brasil e posteriormente o Mundo.

No entanto, a Federação Baiana de Pugilismo (FBP), após o primeiro campeonato oficial de capoeira (Guanabara 1974) discordou do RTC, pois alegaram que tinham vindo para uma disputa individual e desta forma não participaram do campeonato em sinal de protesto, e pediram para sediar um congresso para avaliação do que para a FBP, deveria ser mudado. Em maio de 1975, foi realizado em Salvador um congresso, cuja pauta era graduações, uniforme e campeonato individual. Após três dias de negociações, muito pouco tinha sido avançado quanto à graduação e uniforme. Por iniciativa da FBP, através da proposta de Ubirajara Almeida (Mestre Acordeom) as delegações presentes concordaram que no campeonato individual que seria realizado em São Paulo, cada delegação iria com o uniforme que estava acostumado a usar e que achavam que deveria ser incluído no RTC, e aquela equipe que fosse a campeã, os demais Estados passariam a usar o uniforme (vestuário e graduação) usado pela equipe campeã. Após este campeonato, só o tênis foi abolido nas disputas individuais.

Como o Estado da Guanabara foi à grande campeã, ficou definido que todos seguiriam seu padrão de vestuário, conforme descrito abaixo:

- O sistema de graduação tem sua fundamentação nas cores da Bandeira Nacional Brasileira, estabelecida de forma lógica, sendo a primeira cor verde, depois o amarelo e o azul. A cor branca só entra no nível de mestre. Como a Capoeira é um esporte genuinamente nacional, nada mais justo e patriótico do que estabelecer as cores nacionais como referência.

- Calça branca, em helanca ou tecido similar, cuja bainha alcance o tornozelo, atada a cintura pelo cordel indicativo da classe a que pertence o atleta. É proibido o uso de calça de outra cor que não seja branca, bem como o uso de cintos, bolsos e fivelas, e etc;

- O capoeirista vestirá camisa branca de malha, tendo estampado no peito o escudo de sua entidade.

- O cordel deve ser colocado na calça do capoeirista, transpondo as passadeiras, de maneira que seja dado um nó, no lado direito da cintura e que fiquem pendentes as duas pontas do cordel, na altura do joelho.


Apesar das Federações terem se comprometido como pontos de honra a utilizar o uniforme da equipe campeã, em vários locais proliferaram variações de graduação, embora o uniforme do Estado da Guanabara seguisse o padrão do RTC desde 1973.

Ao longo dos anos, houve algumas alterações no RTC através de congressos técnicos, principalmente na inclusão feminina nos campeonatos; além de ser refeita a tabela de peso que passou de 3 pesos para 5 na modalidade individual, e da participação de menores de idade nas disputas de duplas e solo (mirim, infantil e juvenil); hoje a capoeira é a maior divulgadora da cultura brasileira e da língua portuguesa, bem como vem a ser um suporte afetivo e financeiro para os que foram para o exterior em busca de oportunidades financeiras.

A importância que o Regulamento Técnico da Capoeira (RTC) tem para a capoeiragem atual, é que ele foi um marco em nossa história, pois foi a partir de seu registro e homologação pelo CND-MEC, que a capoeira deixou de ser uma contravenção penal (Decreto nº 847 de 11 de outubro de 1890), sendo a sua prática oficialmente liberada em todo o território nacional.

Evaldo Bogado de Almeida
Mestre Bogado