Compreendendo a tradição

A tradição é um mecanismo de regras e comportamentos (não escritos), baseados nas experiências anteriores (lúdicas), usado para que não houvesse o que há hoje. Explico: instrutores e contramestres antes (e funcionava) só davam aulas na academia de seu mestre; isso porque faz parte de sua formação e não porque o mestre queria explora-los, e a melhor forma de isso acontecer era dentro do espaço do mestre, com a presença dele para poder ensinar macetes de aulas, uma vez que cada aluno é um universo diferente do outro; assim se davam os treinamentos, contudo, poderiam ter espaços próprios desde que estivessem sob supervisão de seu mestre.

Nunca foi uma questão de ego e sim de obediência às regras sociais e leis vigentes. Por exemplo, você sabia que para ter um espaço e dar aulas você tem que se registrar na delegacia da área com documentos que comprovem sua licença para tal?

Pois é, a lei existe, mas como estamos no Brasil, ninguém cumpre e quando dá merda, todo mundo chora, ainda mais hoje que tudo é processo!

O que acontece hoje é que os "instrutores" montam seu núcleo muitas vezes nos dias e horários de aula de seus mestres. O que acontece é que não aparecem mais para ter aula com seus mestres por não haver compatibilidade de horários e mais interessante ainda é que cobram de seus mestres supervisão e visitas em seus espaços, no horário e dias do mestre. Ai reclama do abandono do mestre.

Fazem eventos sem participar ao seu mestre, fazem convites sem colocar o nome de seu mestre neles e como tem "alunos" e espaço próprios, e seus egos estão super inchados, fundam um grupo.

Ser mestre é ter que enxergar o que os outros não enxergam, é saber de leis e condutas que os outros não sabem. É saber evitar problemas antes que eles aconteçam. E para isso é necessário experiência sim. Ser respeitado sim. É respeitar sempre sim, mesmo quando alunos se rebelam sem ao menos saberem por quê.

Ser mestre é ter que levar porrada dos alunos e saber que não deve revidar. Não porque não queira ou não possa, mas porque conhece as leis e que "crianças" mal criadas devem ser punidas com castigos e não com pancadas.

Um mestre tem que entender e orientar o aluno. Sua experiência de vida o obriga a isso.

Vejo muito por ai pessoas dando palestras sobre vivência de capoeira, sem ao menos saberem o que é a capoeira e sem maturidade para isso e ainda cobram.

E sim, um mestre para ser um mestre tem que ter alunos. Mesmo porque não é o mestre que escolhe os alunos e sim o contrário. Não existe maestro sem orquestra e nem líderes sem liderados.

Um mestre pode parar de dar aulas, mas ele sempre será um mestre.

Sua trajetória de vida dentro e fora da capoeira lhe dá esse direito, e onde ele for ou estiver, será sempre reconhecido e respeitado como "Mestre".

Um mestre não precisa entrar na roda para provar que é mestre e se assim for, ele não é mestre!

Quem vive com a necessidade de a todo momento dizer "eu sou" é porque não tem certeza do que é, e na capoeira, você é alguma coisa quando todos dizem que você é e te respeitam como tal.

O título vem da sociedade e não do que você se "pavlona"! (bancar e se pintar de pavão).

Ainda estou lúcido e continuo chato!!

Axé a todos!
Paulo Roberto Lopes
Mestre Paulinho Meia Lua
Rio de Janeiro