NOTA NA ÍNTEGRA

Vale ressaltar que as violências físicas, sexuais e psicológicas cometidas contra crianças e adolescentes são um problema social mundial e não é um fato exclusivo relacionado à Capoeira ou ao Brasil.

• Segundo a ONU, 55 milhões de crianças são vitimas de algum tipo de violência na Europa a cada ano.

• No Brasil, segundo dados do boletim de 2018 do SINAN, entre 2011 a 2017, 31,5% dos casos notificados são de crianças entre (0 e 9 anos) e 45% contra adolescentes entre (10 e 19 anos).

Devemos ligar o nosso alerta e combater a violência que é crime!

Nos últimos anos, várias denuncias foram realizadas dentro do meio esportivo, como por exemplo: a Ginástica Artística nos USA e Brasil, Divisão de base do Futebol, Natação, entre outros.

Devemos destacar aqui dois pontos:
• O problema não é do esporte, mas sim, de pessoas que se aproveitam do meio esportivo e posição da hierarquia social do mesmo para cometer atos de abusos e violências.

• Que as vitimas estão tendo consciência que não devem ficar caladas, e precisam denunciar os agressores para extirpar essas pessoas do convívio social.

A capoeira tem um papel importantíssimo dentro do cenário da educação atual e desde a última virada de século passou a ter cada vez mais alunos com faixa etária abaixo dos 10 anos.
• É papel do educador (Professor ou Mestre) ajudar na evolução do aluno, mas também é seu papel, obsevar as atitudes deste aluno, que podem demonstrar sinais de comportamento de alguém que está sendo vítima de abuso ou de que o mesmo possa estar sendo um abusador.

• É papel do Mestre de Capoeira acompanhar de perto seu aluno que foi liberado para dar aulas, saber como anda seu trabalho, ter contato com pessoas da instituição, colégio, academia ou qualquer que seja o local que o mesmo efetua suas aulas para saber qual é o retorno desse trabalho pela visão de quem está lá no dia a dia.

• É papel do capoeirista, seja ele de qualquer graduação, denunciar casos que presencie ou que chegue aos seus ouvidos.

• É papel da Associação ou Grupo, apurar fatos internos e caso tenha indícios denunciar as autoridades para que seja feita uma investigação mais apurada.

• É papel de qualquer cidadão não se calar diante de uma injustiça, abuso ou violência contra crianças, adolescentes, adultos e idosos, seja de qualquer gênero, crença ou raça.

A luta para uma sociedade justa é dever de todos, e ela se fortalece quando não nos calamos diante das desigualdades e injustiças praticadas contra quem está do lado mais fraco.

Devemos dar um basta e entender que a violência praticada hoje, para o violentado se perpetua por anos, muda seu comportamento, seu jeito de ser e pode levar o mesmo a cometer suicídio.

Por isso lembre-se que a denúncia pode salvar vidas, pois mais de 39% dos casos, o abusador volta a cometer o crime contra o mesmo indivíduo ou outros indivíduos.

A capoeira nasceu como luta de defesa contra o opressor, como um meio de se chegar à liberdade. Por nossa história sabemos que nada é fácil, a luta deve ser constante e por isso viemos resistindo durante os séculos.

A luta contra o abuso e a violência também não é fácil, mas ela é necessária e importante!

Os praticantes de capoeira se aprofundam nas diversas manifestações culturais que a arte nos oferece e passamos a ser os defensores dela, então está mais do que na hora de agregarmos uma nova cultura em nossos saberes, a cultura de:
• Não ao abuso.
• Não a violência.
• Não se calar diante da injustiça.
• Não ter medo de denunciar um agressor.

Cultive e propague essa cultura, se torne exemplo, seja a referência de apoio que um oprimido precisa para ter voz e se libertar.

Com base ao que meu Mestre dizia, penso que: "Em nossa atualidade, não ensinamos apenas a capoeira, não ensinamos apenas a luta corporal, ensinamos disciplina, bons exemplos e costumes para que o aluno de hoje se torne um grande cidadão amanhã”.

Rio de Janeiro, 04 de junho de 2021.

Jefferson Estanislau
RODA DE CAPOEIRA