SÉCULO XX - A CAPOEIRA METODIZADA, LUTA BRASILEIRA

No Rio de Janeiro, no ano de 1907, surge um livreto denominado Guia do Capoeira ou Gymnástica Nacional assinado como “O.D.C.” (Ofereço, Dedico e Consagro), que trazia a seguinte introdução:

“Atualmente, o capoeira é representado pelo desgraçado vagabundo, trouxa, cachaça, gatuno, faquista ou navalhista, conhecido por alcunha que lhe garante a maior facilidade de entrada no xadrez policial! Assim, o maior insulto para inutilizar contra um jovem é chamá-lo de capoeira.

Foi, sem dúvida, nosso empenho levantar a Gymnastica Brasileira do abatimento em que jaz, nivelando-a como singularidade pátria, ao soco inglês, à savate francesa, à luta alemã, às corridas e jogos tão decantados em outros países. Nossa briosa mocidade hoje desconhece, pela maior parte, os trabalhos da arte antiga, e por isso nós resolvemos publicar o presente guia.”


O folheto era dividido em 5 partes:
1) Posições;
2) Negaças;
3) Pancadas Simples;
4) Defesas Relativas;
5) Pancadas Afiançadas.

As lutas importadas ganharam notoriedade e importância no cenário brasileiro, em maio de 1909, chega ao Rio de Janeiro um professor e campeão japonês de Jiu-Jitsu, Sado Miyako, a convite da Marinha de Guerra do Brasil para ensinar a arte aos marinheiros. Isso instigou um grupo de acadêmicos de medicina, para que ocorresse um desafio entre a luta japonesa e a capoeira brasileira, indicando como representante brasileiro o capoeirista Francisco da Silva Cyríaco, mais conhecido como Cyríaco Macaco Velho que ensinava capoeira para alguns desses acadêmicos. O embate sofreu relutância por parte das autoridades, mas por ter sido orquestrada por pessoas com influência no governo, obteve liberação para ser realizado no tablado do Concerto Avenida, com ata de combate regida pela Confederação Brasileira de Pugilismo.

A vitória do capoeira sobre o japonês, com um único e fulminante rabo de arraia que deixou o adversário desacordado, repercutiu e foi relatado em jornais, como o Careta.


As maltas passariam a perder espaço e força, e os capoeiristas tentam desvincular a capoeira do lado marginal, começam a surgir às pequenas academias de capoeira, porém, rotuladas com nomes que sugerem espaços comunitários, danças e manifestações folclóricas pelo Brasil, no Recife surge o frevo, essas ações fizeram com que a capoeira fosse menos perseguida e pudesse sobreviver.

Em 1928 no Rio de Janeiro, Annibal Burlamaqui publica Ginástica Nacional (Capoeiragem) Metodizada e Regrada, um trabalho ilustrado com os principais golpes de capoeira, porém, tendo um visão voltada para um método de ginástica e a pratica do jogo desportivo.

Em 1930 na Bahia, Mestre Bimba cria uma nova concepção de capoeira, ao retirar alguns golpes da capoeira tradicional Angola, e acrescentar novos golpes modificados com base em outras artes marciais, com movimentos mais rápidos, surge aí a Luta Regional Baiana, mais tarde chamada de Capoeira Regional. Este novo método criado por Bimba, ganhou aceitação e muitos adeptos.

Em 5 de novembro de 1933 é fundado o Departamento de Luta Brasileira (Capoeiragem) da Federação Carioca de Pugilismo.

Em 4 de novembro 1936 é fundado o Departamento de Luta Brasileira (Capoeiragem) da Federação Paulista de Pugilismo.

Em 1941, o presidente Getúlio Vargas finalmente cria o Departamento Nacional de Luta Brasileira (Capoeiragem), departamento pertencente à Confederação Brasileira de Pugilismo com o Decreto Federal 3 199/41.

Em 1953, após uma apresentação de Bimba e seus alunos em Salvador para o Governo Baiano, com a presença do então presidente da República, Getúlio Vargas, o presidente deixa registrada a seguinte frase: “A capoeira é o único esporte verdadeiramente nacional”.

Entre 1968 e 1969, é realizado o I e II Simpósio sobre Capoeira, promovido pela comissão de desportos da Aeronáutica, na AFA, em Campo dos Afonsos - RJ, com a presença de pessoas de renome e Mestres de Capoeira, principalmente dos estados do Rio de Janeiro, da Bahia e de São Paulo.

Essas iniciativas foram fundamentais para uma mudança de postura de pensamentos. Finalmente, em 26 de dezembro de 1972, o Regulamento Técnico da Capoeira foi aprovado pelo Conselho Nacional de Desportos e reconhecido pelo MEC, saindo do código penal brasileiro como contravenção, passando a sua prática e manifestação ser livre.

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