Filho de Luiz Cândido Machado e Maria Martinha do Bonfim, Manoel dos Reis Machado, nasceu na periferia do bairro de Brotas, no dia 23 de novembro de 1900. Recebeu de “batismo” o nome BIMBA, em decorrência de uma aposta feita entre a sua mãe e a parteira que dizia ser um menino. Surge aí o apelido BIMBA!

Manoel ou Bimba iniciou na capoeira aos 12 anos de idade. O primeiro local onde treinou era conhecido como Estrada dos Boiadeiros no bairro da Liberdade, seu primeiro Mestre foi o africano Bentinho capitão da Companhia de Navegação Baiana. O curso teve a duração de 04 anos e o método era a capoeira antiga. Esta mesma capoeira ele conseguiu ensinar por 10 anos, o local das aulas era conhecido como Clube União em Apuros, nome de fachada para poder dar aulas de capoeira no bairro da Liberdade.


LUTA REGIONAL BAIANA

Ao perceber que a capoeira estava perdendo seu valor cultural e enfraquecendo enquanto luta, Mestre Bimba misturou elementos da Capoeira Tradicional Angola com o Batuque "luta do Nordeste Brasileiro, extinta com o passar do tempo" criando assim um novo estilo de luta com praticidade na vida, com movimentos mais rápidos. Assim conquistou todas as classes da sociedade, surge aí a Luta Regional Baiana, mais tarde chamada de Capoeira Regional, que ano á ano vem sempre desenvolvendo mudanças mais eficientes, como forma de luta.

Eis a explicação do próprio mestre, numa entrevista ao jornal A Tarde, publicada na edição de 16 de março de 1936:

“Em 1928, adaptei vários golpes à chamada Capoeira Angola, praticada pelo meu mestre, Bentinho. Os golpes do jogo de Angola são estes: meia lua de frente, meia lua de compasso (rabo de arraia), meia lua armada, aú pela direita e pela esquerda, cabeçada, chibata, rasteira, raspa, tesoura fechada, balão, leque, encruzilhada e deslocamento.

Destes golpes retirei dois, encruzilhada e deslocamento, e acrescentei os seguintes: vingativa, banda traçada, balão em pé, balão arqueado, balão colar de força, cintura desprezada, cintura de rins, gravata cinturada, tesoura aberta, bênção, solta pescoço, sopapo galopante, godeme, cotovelo e dentinho”.


Em 1932 fundou sua primeira academia no bairro do Engenho Velho de Brotas. Oficialmente a primeira academia de capoeira a ter seu alvará de funcionamento datado de 23 de junho de 1937.

Bimba empunhava regras para os praticantes da capoeira regional, sendo elas:

– Não beber, e não fumar. Pois os mesmos alteravam o desempenho e a consciência da capoeira.
– Evitar demonstrações de todas as técnicas, pois a surpresa é a principal arma dessa arte.
– Praticar os fundamentos todos os dias.
– Não dispersar durante as aulas.
– Manter o corpo relaxado e o mais próximo do seu adversário possível, pois dessa forma o capoeira desenvolveria mais.


Neste mesmo ano, fez á primeira apresentação do seu trabalho para o interventor general Juraci Magalhães, onde estavam presentes autoridades civis e militares, entre eles Getúlio Vargas, Presidente do Brasil e outros convidados ilustres.

Em 1939, ensinou capoeira no Quartel do CPOR. Em 1942 instalou sua segunda academia. Em 1949, o escritor Monteiro Lobato o conheceu e lhe dedicou o conto Vinte e dois de Marajó, que conta a história de um marinheiro capoeirista.

Como a capoeira não era bem vista aos olhos da sociedade, Mestre Bimba resolveu registrá-la como Centro de Cultura Física Regional, localizada na Rua Francisco Muniz Barreto, n° 01, Pelourinho.

No dia 23 de junho de 1952, o presidente da República, Getúlio Vargas, esteve em Salvador, sendo recepcionado pelo governador Régis Pacheco com uma festa no Palácio da Aclamação. O grupo de Mestre Bimba fez uma apresentação para Vargas, deixando-o encantado. Num arroubo de patriotismo, o presidente virou-se para o governador e disse: “A capoeira é o único esporte verdadeiramente nacional”. Estava assim considerada como prática esportiva.

O que Vargas viu foi um grupo formado por duas alas. A da percussão, com dois pandeiros e um berimbau. O berimbau ditava o ritmo da luta, através de toques como São Bento Grande, Santa Maria, Banguela, Amazonas, Cavalaria, Idalina e Iúna. Tudo isso ancorado em cantos, como o ‘Ponha Laranja no Chão, Tico-Tico’, que Bimba considerava como o hino da Capoeira Regional. A outra ala foi a dos capoeiristas. Revezavam-se de dois em dois, numa exibição cheia de movimentos e coreografias encenando os golpes. Bimba, mostrando porque era chamado de mestre, deu um show aos 51 anos de idade: tocou berimbau, regeu o coro, jogou e comandou todo o espetáculo, numa vitalidade fantástica.

Em 1972, realizou a última formatura do centro de cultura física regional, nesta formatura o Mestre Vermelho 27 foi o orador.


DIVISOR DE ÁGUAS

Bimba foi um divisor de águas na história da capoeira. Revolucionou a concepção conservadora que se tinha da capoeira Angola e criou seu estilo próprio, introduzindo valores da classe média. Antes dessa revolução, a luta era ilegal, passível de punição pelo Código Penal, discriminada pela burguesia como coisa de malandro, de escravo fujão. Os capoeiristas sequer sonhavam em sobreviver "no sentido de trabalho e fonte de renda" dessa manifestação popular. Bimba rompeu com este ranço. Deixou as funções de carroceiro, trapicheiro, carpinteiro, doqueiro, carvoeiro para abraçar a capoeira e o seu instrumento mais ilustre, o berimbau.

Mestre Bimba acreditava que a capoeira tinha que se renovar para não ser engolida pelas lutas estrangeiras. A preocupação, apesar de à primeira vista soar bairrista, tinha razão de ser. Até hoje, são lutas como o boxe americano e o judô japonês que circulam na mídia, nas Olimpíadas, lotando estádios e enriquecendo seus atletas, empresários e patrocinadores. Lutando incessantemente para que a capoeira fosse reconhecida como a legítima arte marcial brasileira, Mestre Bimba criou a Capoeira Regional, jogo que ganhou este batismo pela aversão do mestre a estrangeirismos, fazendo questão de chamá-la de "Luta Regional Baiana". Sendo a Capoeira Regional um estilo menos ritualístico do que a capoeira tradicional Angola.

Os golpes introduzidos por Mestre Bimba facilitavam a defesa pessoal quando do embate com praticantes de outras lutas, como as artes marciais importadas, muito populares no Brasil nas décadas de 30 e 40. Nessa época, desafiou todas as lutas e consagrou-se como primeiro capoeirista a vencer uma competição no ringue, quando o público incentivava com o grito de guerra "Bimba é bamba!".

Graças ao Mestre Bimba, a capoeira foi institucionalizada como arte e os capoeiristas transformados em artistas, em verdadeiros dançarinos e atletas de luta e dança. Bimba levou seu grupo para apresentações em diversas cidades brasileiras, dando grande visibilidade à capoeira baiana. Ele criou um grupo folclórico, que o acompanhava nas excursões, contribuindo para a difusão das manifestações culturais da Bahia, a exemplo do samba de roda, do samba duro e do maculelê. Em Salvador fazia apresentações para turistas no Sítio Caruano, no Nordeste de Amaralina, e no Alto de Ondina, em convênio com as agências de viagens.

Oficializada como prática esportiva em 1972, pelo Conselho Nacional de Desportos, a capoeira inseriu-se finalmente nos currículos universitários, principalmente nos cursos de Educação Física, com status de disciplina desportiva.

Em 1973, Mestre Bimba, por motivos financeiros, foi embora da Bahia, acusava os poderes públicos de não terem lhe dado o devido valor e se despedia de Salvador para ir residir e trabalhar em Goiânia.

Em Goiânia, no ano seguinte a sua partida, no dia 05 de fevereiro de 1974, Mestre Bimba veio a falecer vítima de um derrame cerebral. Mestre Bimba morreu aos 73 anos.

Mestre Bimba foi um exímio lutador e acima de tudo um grande educador, sendo o ponto de partida para tirar a capoeira da marginalidade.

"Meu pai morreu de banzo (tristeza), por não ver a capoeira respeitada", disse o filho Demerval Machado, o Mestre Formiga.

Numa homenagem póstuma, recebeu o título de Doutor Honoris Causa da Universidade Federal da Bahia, em solenidade realizada em 12 de junho de 1996.

Nesse mesmo ano, a Câmara Municipal de Salvador outorgou-lhe a Medalha Thomé de Souza, a maior honraria da primeira casa legislativa do país. No Nordeste de Amaralina, onde residiu e teve academia, no Sítio Caruano, existe a Rua Mestre Bimba. Bem próximo, já no bairro do Rio Vermelho, onde fica a Praça dos Capoeiristas, encontra-se um monumento homenageando o criador da Capoeira Regional.


Fontes de referência:

* https://pt.wikipedia.org
* http://www.capoeiramestrebimba.com.br
* http://www.jblog.com.br
* http://www.ubaldomarquesportofilho.com.br